Transporte em São Paulo sobe mais que o salário mínimo

Por Fernanda Santos

Em São Paulo, o aumento da tarifa de ônibus e metrô supera o do salário mínimo

Veja como os novos preços vão comprometer a sua renda

O governador empossado de São Paulo, João Dória (PSDB), anunciou neste início de ano que a tarifa básica do metrô e dos trens da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM) vai saltar de R$ 4 para R$ 4,30, a partir de 13 de janeiro. O mesmo aumento vale para a tarifa dos ônibus municipais da capital paulista (SPTrans), que já terão o novo preço a partir do dia 7 de janeiro. O reajuste foi de 7,5%.

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Trem da CPTM na Estação da Luz: governo paulista e prefeitura de São Paulo, responsável pelos ônibus, anunciam aumento nas tarifas de transporte

O custo com o transporte aumentou, mas será compensado com o reajuste do salário mínimo, certo?! Errado. O salário mínimo do brasileiro não terá um aumento proporcional ao custo do transporte em São Paulo. O presidente Jair Bolsonaro (PSL) anunciou que o mínimo passará de R$ 954 para R$ 998 – um reajuste de 4,6%.

Isso significa que os transportes vão pesar ainda mais no orçamento, principalmente dos mais pobres. O ganho real que o brasileiro conseguiria com o salário mínimo ficou comprometido pelo transporte público.

Mais pobres sempre sentem mais

Para o economista Marcio Milan, da Tendências Consultoria, o reajuste dos transportes foi consideravelmente maior que o aumento real do salário mínimo em 2019.

“A gente deve ter uma pressão maior dos transportes no orçamento das famílias de baixa renda. Quanto maior a renda, menor o peso desses gastos básicos na cesta de consumo”, diz Milan.

Veja um exemplo:

Um trabalhador de São Paulo ganha um salário mínimo por mês e precisa pegar dois ônibus por dia: um para ir ao trabalho e um para voltar para casa.

Em 2018, ele gastava R$ 8 em transportes diariamente, ou seja, entre R$ 160 e R$ 176 por mês – considerando 20 e 22 dias úteis. Como ele ganhava R$ 954, o gasto com o deslocamento trabalho-casa comprometia 16,8% e 18,4%, respectivamente, da renda mensal desse trabalhador.

Em 2019, esse mesmo trabalhador vai ganhar R$ 998 por mês e gastar entre R$ 172 e R$ 189,2 com transportes, já considerando a nova tarifa de R$ 4,30. Isso significa que ele vai comprometer até 19% da renda com transportes. Mais que no ano anterior.

Mesmo pequena, essa diferença significa que o usuário de transporte público está perdendo poder de compra.

Entenda o aumento dos transportes

O reajuste de 7,5% em relação aos preços do ano passado fica acima da inflação oficial do País que, segundo o Banco Central, deve fechar o ano em 3,69%. Se seguisse o IPCA, a tarifa do metrô e do ônibus passaria de R$ 4 para R$ 4,16.

O principal argumento para o aumento das tarifas são os subsídios. Para que as empresas de ônibus e a CPTM não aumentem as tarifas, a prefeitura e o governo do estado arcam com a diferença entre os custos que a empresa tem e a arrecadação.

“Por dois anos, entre 2016 e 2017, a tarifa não sofreu qualquer reajuste, mantendo-se no valor de R$ 3,80 e impactando significativamente o orçamento da prefeitura. Em 2018, houve aumento abaixo da inflação, elevando o valor para R$ 4”, disse a prefeitura de São Paulo.

Entre 2011 e 2014 e de 2016 para 2017, não houve aumento nas tarifas. Somente no ano passado, o subsídio do governo do estado à CPTM era de R$ 1,141 bilhão, enquanto o subsídio da prefeitura às empresas de ônibus chegou a R$ 2,9 bilhões.

Um dos motivos para que as prefeituras e governos optassem por subsidiar os preços em vez de aumentar as tarifas de transporte em São Paulo foram os protestos de 2013 contra o reajuste de R$ 3 para R$ 3,20 no preço do ônibus e do metrô/trem.

As manifestações causaram forte desgaste às gestões do então prefeito Fernando Haddad (PT) e do governador de São Paulo Geraldo Alckmin (PSDB) e transformaram o aumento das tarifas em um verdadeiro tabu.

Empresas repassam os custos

Marcio Milan explica que os custos das empresas de trem e ônibus sobem e elas precisam repassar esses valores aos consumidores, aumentando as tarifas e os subsídios. Nos últimos anos, combustível e folha salarial foram alguns dos gastos que mais pesaram nessa conta.

“Nesses dois anos, o preço do diesel, que é o combustível usado em ônibus, aumentou bastante. Também existe o custo com mão de obra que é mais atrelado a salário”, afirma o especialista da Tendências. “Isso ajuda a explicar por que, mesmo num cenário de inflação baixa, o reajuste de transporte ficou bem acima da inflação.”

Metrô e CPTM

Veja como ficam as tarifas de metrô/trem em São Paulo, após os reajustes.

Tarifa unitária: R$ 4,30

Integração com ônibus de SP: R$ 7,48

Fidelidade 8 viagens: R$ 31,71

Fidelidade 20 viagens: R$ 76,86

Fidelidade 50 viagens: R$ 187,05

Bilhete Mensal Comum: R$ 208,90

Bilhete Mensal Integrado: R$ 323,80

Bilhete 24 horas Comum: R$ 16,40

Bilhete 24 horas Integrado: R$ 21,60

Ônibus

Veja como ficam as tarifas de ônibus municipais em São Paulo após o reajuste.

Tarifa dos ônibus municipais (SPTrans): R$ 4,30

Bilhete Diário comum (24 horas): R$ 16,40

Bilhete Mensal comum: R$ 208,90

 

As gratuidades para idosos, estudantes e pessoas com deficiência serão mantidas.